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Manuel Tomás (na foto), com José Mário Costa, forma jornalistas no centro do LumiarCentro de Formação da RTP já reciclou 280 profissionaisQuebrar rotinas e fazer os jornalistas pensar na sua profissão é a missãoAo juntar séniores com juniores criam-se várias ideias, correntes e concepções jornalísticas...
Pelo Centro de Formação da Rádio e Televisão de Portugal no Lumiar já passaram, desde Outubro de 2004, mais de 280 profissionais, entre os quais muitas caras e vozes conhecidas do público. Isso mesmo disse ao DN Luís Marques, administrador da RTP e responsável por esta área , esclarecendo tratar-se de um projecto para manter "até ser necessário" (ver entrevista em baixo).
Mas quem deseja que o mesmo projecto se torne uma acção contínua no tempo são os três actuais responsáveis do Centro de Formação da RTP. Eduardo Oliveira e Silva (director), Manuel Tomás (responsável pedagógico da vertente Televisão) e José Mário Costa (responsável pedagógico da área de Rádio) revelam ao DN o que os move num centro que esteve inactivo durante 15 anos e que foi reanimado, em 2003, pela administração de Almerindo Marques.
Acima de tudo, a crença de que é possível mudar formas de agir e de trabalhar num meio onde existem rotinas a vários níveis. E depois, uma grande vontade de ajudar estes profissionais de televisão e de rádio a reflectir num plano profissional para si. "O trabalho continuado provoca rotinas, cria ciclos em que os jornalistas quase não têm consciência do acto de conduzir o trabalho", explica Eduardo Oliveira e Silva. E a formação foi a forma encontrada para quebrar tudo isto, ao mesmo tempo que veio "introduzir na empresa um grande debate sobre a forma de se desenvolverem as profissões, de se fazerem os trabalhos", acrescenta Manuel Tomás.
Por exemplo, na área de jornalismo de televisão foram criados grupos de 15 jornalistas, seleccionados por Miguel Barroso. "Ao juntar seniores com juniores, criaram-se várias ideias, correntes, concepções jornalísticas e experiências. Durante 15 dias estas pessoas da mesma redacção, mas que não falavam umas com as outras, fundiram-se, romperam as barreiras do diálogo e, sobretudo, durante o período de formação discutiram televisão e rádio", explica Manuel Tomás. "Questionaram-se maneiras de fazer jornalismo à escala nacional e internacional", adianta o mesmo formador, concluindo que "esta foi a melhor e mais significativa componente que esta formação está a introduzir na empresa".
Que modelo? Mas que modelo se deve adoptar na formação é a questão que se coloca. Ao que José Mário Costa responde prontamente "anglo-saxónico", para ser interrompido por Manuel Tomás, que alerta que "antes disso é preciso algo mais". E recorda "Antes do 25 de Abril, para ir para a rádio e para a televisão era preciso fazer testes de aptidão muito rígidos. Depois as redacções dos jornais, da rádio e da televisão começaram a encher-se de gente nova sem preparação". Passados mais de 30 anos, "encontramos hoje vícios tremendos de gente nova que já não é assim tão nova, mas sem o quadro estruturante necessário para funcionar". A par disto esteve o "facto de o jornalismo estar bastante diminuído, bastante mal qualificado pela existência de pessoas que não têm a menor das condições para exercer a profissão", acrescenta.
José Mário Costa entra na conversa para dizer que, além da formação de base de saber fazer notícias, "não há ninguém a passar o testemunho nem a ensinar".
Mas Manuel Tomás conclui dizendo que "em televisão, além da preparação pessoal e propensão natural para ser jornalista, há ainda que aprender as técnicas de domínio e só depois pensar nas influências anglo-saxónicas ou nas influências gerais". Além do mais, adianta, "com a globalização, quando falamos em influência do jornalista em televisão sente-se que está a emergir um estatuto particularíssimo de cada cultura que já não necessita desta ou daquela influência". Por exemplo, "um Telejornal da RTP, um Jornal da Noite da SIC ou um Jornal Nacional da TVI têm uma estruturação própria e não obedecem a um figurino predeterminado, pré-copiado deste ou daquele modelo de televisão internacional", explica o formador. Assim, "em vez de pensar em influências anglo-saxónicas na TV ou na rádio devemos perder-nos na reformulação da nossa própria ideia enquanto jornalistas ou no jornalismo que podemos produzir para o País, seja qual for o órgão de comunicação".
in DN, por Paula Brito---------------------
Formação para uma cultura de excelênciaEntrevista a Luís Marques - Administrador da RTP
Quando e por que razão surgiu a ideia de arrancar com a formação na RTP?O antecedente foi a experiência iniciada na RDP, onde retomámos o Centro de Formação em 2003. A iniciativa foi muito bem recebida, os resultados superaram as nossas expectativas e quando, em 2004, as duas empresas se juntaram decidimos estender essa experiência à televisão, com a criação do Centro de Formação da Rádio e da Televisão. O objectivo, tanto na RDP como na RTP, é melhorar o desempenho dos profissionais das duas empresas, através de uma actualização de conhecimentos indispensável em actividades em mutação permanente e onde a exigência de qualidade é um elemento diferenciador da prestação de serviço público.
Há quanto tempo não se dava formação aos funcionários da estação?Não havia formação na RDP desde 1995 e na RTP, de forma sistemática e planeada, desde meados dos anos 90.
Serve esta formação para reafirmar ou reencontrar o modelo RTP? Qual é então esse modelo?Os objectivos da administração ao relançar a formação no grupo de rádio e televisão públicas são os de melhorar o desempenho individual de todos os profissionais de rádio e televisão e a qualidade do serviço prestado aos portugueses. Estamos certos de que a formação é fundamental para introduzir no grupo uma cultura de excelência assente nos valores inscritos no serviço público, que são o modelo que deve orientar a actividade da rádio e da televisão e de todos os seus profissionais.
Qual é o balanço da administração?Fazemos um balanço muito positivo. Pelos cursos da televisão já passaram 279 formandos. Na rádio passaram 194 formandos. Trata-se de um esforço gigantesco do Centro de Formação, que conta com uma excelente equipa, e de todos os formadores, que em larga medida são eles próprios profissionais do grupo.
É um projecto para continuar até quando?Até ser necessário.
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Mais de 130 profissões são alvo de formação "[Na formação rádio] discutiu-se a forma de furar a agenda oficial dos clubes e dos empresários"
"Como é que vou estar à frente de uma câmara? Como olho? como ponho as mãos? Como estabeleço a relação editorial do corpo e da voz perante uma câmara? Como afirmo uma notícia? Canto? Como digo um teleponto? Leio?" Estas são algumas das muitas perguntas que surgem aos jornalistas, sobretudo aos
pivots, quando integram o grupo de formandos e iniciam as aulas.
"Isto é assim! Diz-se desta maneira!" são depois as "reacções mais frequentes de profissionais com alguma experiência e que pensavam que sabiam tudo", explica Manuel Tomás. E em todas as áreas, acrescenta o formador, dizendo ainda que no Centro da RTP são objecto de formação mais de 130 profissões. Desde o produtor, passando pelo técnico de luz, operador de som, até ao
pivot, que tem atrás de si uma vasta equipa de profissionais, todos passam pelo Centro de Formação RTP, no Lumiar.
Um dos últimos grupos, o 12.º, constituído por cerca de 15 alunos e cuja acção decorreu entre 14 e 24 de Junho, destinou-se aos profissionais da RTP que desenvolvem a sua actividade na Direcção de Informação, no âmbito do jornalismo, nomeadamente na reportagem directa, gravação de vivos, entrevistas no exterior, apresentação de programas,
pivots e ainda repórteres de imagem que exercem a sua actividade no relacionamento diário com o jornalista.
Os objectivos desta formação passaram por capacitar os jornalistas com técnicas de postura frente à câmara (de pé e sentado), de pronúncia e edição, assim como ensinar técnicas de respiração, voz, leitura
versus verbalização e interpretação de textos. A escrita para televisão (informação), o treino essencial para o correcto desempenho prático da relação com o
pivot, bem como a sensibilização do repórter de imagem e do jornalista para os problemas comuns de relacionamento editorial, são outros dos objectivos.
Assim, num conjunto de sete módulos - Técnicas de Voz, Notícia, Língua Portuguesa, Comunicar, Escrever, Estúdio e Visualização - à formadora Ana Ester coube a responsabilidade de falar dos sons e da voz. Como respirar com o diafragma e que técnicas adoptar para relaxar, respirar e aproveitar a capacidade respiratória foi outra das vertentes deste módulo ao nível da postura. A formadora ensinou os limites da utilização da voz, o tom, o volume e o ritmo de leitura e verbalização. A memorização e improvisação acompanhados por alguns truques são também transmitidos por esta formadora.
No módulo Notícia, da responsabilidade de José Rodrigues dos Santos, fala-se da notícia propriamente dita, ensina-se a escrever para televisão, a escrever para dizer e ser ouvido e a diferença entre reportar e comentar, assim como o tratamento jornalístico da notícia face ao acontecimento.
Outro grande
pivot, José Alberto Carvalho, teve como missão o módulo Comunicar. Detentor de um estilo próprio, o jornalista fala do que é ser apresentador de televisão e
pivot. Que relação deve este ter com o repórter e que sintonia editorial deve existir entre ambos. Como devem ser os vivos (emissões em directo) e a verbalização do texto escrito para televisão dizer a notícia e o improviso. As entrevistas são outro género alvo da atenção de Alberto Carvalho. Que códigos e condutas editoriais e deontológicas se deve seguir.
Rádio. José Mário Costa, acérrimo defensor da língua portuguesa, teve a responsabilidade da formação Rádio. Até ao início de Fevereiro passaram por esta formação cerca de 130 profissionais oriundos da Antena 1, Antena 2, Antena 3, RDP África, RDP Internacional, RDP Coimbra, RDP Madeira e RDP Açores. No segundo trimestre, a formação Rádio ocupou-se da área do jornalismo desportivo. "Foi-se mais longe. Discutiu-se com o jornalista a forma de furar a agenda oficial dos clubes e empresários e como adoptar uma escrita criativa contra uma linguagem estereotipada", explica José Mário Costa, orgulhoso da criação de um manual fonético para a rádio.
in DN